O grupo das 14 mulheres
Há um pouco mais de um ano atrás, acordei com meu celular tocando. Apesar de saber que, para ter uma noite de sono mais tranquila e saudável deveria desligá-lo, não o fiz. Admito que acordei irritada e, na hora, cogitei voltar a dormir como de costume. Porém, a quantidade de notificações no meu celular não parava de aumentar e, portanto, ignorei meu desejo de ter uma noite de sono.
Era um grupo novo e minha primeira reação foi fechar a cara. Foi aí que comecei a ler. Alguns números não estavam salvos no meu telefone.
Como o grupo tinha sido criado pela minha melhor amiga, segui lendo e fui surpreendida por uma notícia desastrosa. O grupo não era para fofocarmos, e sim para nos informar sobre o falecimento de uma pessoa querida de todas nós e, principalmente para nossa amiga em comum. Muitas mensagens lamentando o ocorrido e desejando força para a família toda. Escrevi no grupo que, por motivos de distância, não poderia comparecer e fui falar com minha amiga em uma conversa privada.
Uma semana depois, silenciei o grupo.
Pensava que fôssemos parar de falar ali com o tempo e quando o acontecido saísse do foco. Minha amiga selecionou as 12 pessoas mais próximas DELA e juntou ali naquele espaço. Já nos conhecíamos de eventos, através da escola e por causa dessa amiga em comum. Por causa dela, acabávamos nos encontrando quase semanalmente em sua casa, mas não achava que haveria tantos tópicos em comum para sustentar tantos assuntos. Me enganei. Através desse grupo “nada a ver”, tive a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas de quem não imaginava me aproximar antes.
Não vou mentir, já havia pensado em sair desse grupo muitas vezes. No começo, nem lia o que escreviam e torcia para que parassem de encher meu celular de notificações e de informações que nem sempre me interessavam. É inegável que mulheres falam demais, principalmente se juntarmos 13 em um grupo de WhatsApp. Ali, falamos sobre tudo: política, artigos de opinião, notícias, fofocas, vidas amorosas, mandamos prints, contamos frustrações, trocamos fotos de roupas, contamos experiências desastrosas e até damos dicas de produtos de cabelo (admito que sobre esse assunto não abro a boca). E é claro, o mais importante: esse grupo é o responsável por muitas das minhas risadas e gargalhadas involuntárias ( principalmente em espaços onde é proibido falar, como na biblioteca).
Às vezes nem dá tempo de responder ou de ler tudo, afinal, cada uma tem a sua própria rotina de trabalho, estágio, faculdade, viagem ou biblioteca. É tanta gente junta e falando ao mesmo tempo, que se torna quase impossível acompanhar, até surgir uma santa que resume tudo para as atrasadas de plantã0.
No nosso grupo, tem sempre as que mais falam e, obviamente as mais quietas. Há as que opinam até quando não são chamadas e as que lêem tudo mas se fingem de mortas. A últimas só acordam quando o assunto está no auge ( e não é sempre). Ali já presenciei brigas, patadas, já dei e levei muitos foras, afinal, o grupo é composto por muitas mulheres que não levam desaforos para casa.
Através dele, mantenho contato com amigas em diferentes partes do mundo e em diferentes fases da vida. Enquanto uma saiu da escola há pouco tempo, a outra deve estar em trabalho de parto enquanto escrevo essa crônica. São os opostos extremos que a vida uniu a partir de uma tragédia. Agradeço a essa amiga em comum por ter trazido pessoas incríveis para a minha vida e ter unido “pessoas nada a ver” em um espaço para virarmos “pessoas tudo a ver”. Que sorte a minha!
Hoje, dou muito valor à essas meninas, ou melhor, às mulheres que a vida me apresentou, reuniu e que a Rafaela uniu. Pessoas que fazem parte da minha rotina ativamente apesar de viverem pelo menos a 9665 Km de distância de mim e de serem completamente diferentes umas das outras.
Hoje, 28 de Março de 2017, em uma terça-feira ensolarada em Nuremberg, nosso grupo ganha mais uma integrante. Nesse dia, falamos ainda mais que o normal e compartilhamos nossos choros de ansiedade e felicidade por causa do nascimento da nossa querida MJ. ( Também já debatemos suas roupas, apelidos e possíveis cores de cabelo da nova sobrinha postiça. Não acho que vai ser ruiva).
Hoje, infelizmente, não poderei comparecer de novo. Não vou poder pegar a MJ no colo e nem jogá-la para cima (provavelmente seria expulsa da maternidade de qualquer jeito). Também já vi que nossa ideia do Boomerang não vai acontecer. Porém, apesar de não estar fisicamente presente, meu coração está na maternidade São José com as mulheres mais presentes na minha rotina e com certeza umas das mais presentes na minha vida atualmente.
Dizem por aí que amigos são a família que escolhemos. E são mesmo.
Hoje, um ano depois, o grupo que lamentava uma perda, hoje celebra (e muito) uma nova vida e o amor pela nossa recém chegada.
Bem-vinda, Majô! Estamos ansiosas te esperando.
PS: Ela nasceu linda como os pais, saudável e com o cabelinho preto. Nesse momento, está embrulhada como um pacotinho para nao sentir frio.