Entre terminais
Parada na estação central de Nuremberg ao esperar meu trem, começo a observar as cenas ao meu redor. Mãe se despede de filho, namorado se despede da namorada, amigo de despede do amigo e etc. Entre abraços apertados e lágrimas dos outros, lembro das minhas próprias despedidas e sinto um aperto no coração. Já ouvi muito que a palavra saudade só existe em português. Tento explicar para os meus amigos alemãs o impacto e a força que ela tem na nossa língua, mas sem muito sucesso.
Vivo uma vida em dois lugares, por isso uso e sinto muito a palavra saudade. A partir do momento em que começo a pensar em partir, é uma choradeira só.
Já ouvi muito “ Ah, mas com o tempo você acostuma! No começo é sempre assim mesmo!” E, apesar disso, após ir e vir mais de 6 vezes, posso garantir que ainda não acostumei com o sentimento de deixar pra trás as pessoas que eu mais amo.
Nessa vida entre aeroportos, trens, ônibus, confusão de mala, cancelamento de voo e etc, posso dizer que tenho sempre muito tempo pra pensar sobre o que vai acontecer na próxima “aventura” ( e muitas vezes choro, de soluçar mesmo!), chamando acidentalmente a atenção dos companheiros de voo curiosos, aeromoças com agua com açúcar, entre outros.
Afirmo que é preciso muita coragem e racionalidade para viver o momento da despedida dos familiares e amigos com tanta frequência. Admito tambem que toda vez penso duas, três ou até mesmo vinte vezes se ir embora vale realmente a pena. Entre lágrimas e soluços, inicio o ritual de ver as fotos do meu celular e é aí que a saudade realmente aperta. É saber que, quando chegar em “casa", não vai ter ninguém me esperando do outro lado. Não vai ter comida feita, não vai ter quem carregue a minha mala, que vou ter dor nas costas até o mês seguinte e que vou estar sozinha no trem e depois no ônibus.
Coloco na minha cabeça que partir é necessário e que, quem sabe um dia volto indefinidamente, afinal isso é uma oportunidade vivida por poucos. Não é como se estivesse indo ao exílio, como se nunca pudesse voltar e como se não aproveitasse os benefícios de morar sozinha. Eu adoro a minha liberdade. A questão é a saudade.
Felizmente, aprendi muito depois de cada uma dessas despedidas. A primeira delas é a mais dolorosa, sempre. Voltar para os seus amigos da primeira vez e ter que deixar tudo de novo é uma facada no peito. Aprendi também quão sortudos somos por termos tantos modos de nos comunicar com o mundo lá fora. É claro que um Facetime não substitui um abraço, mas com certeza ameniza o aperto que sentimos. Por último e o mais importante, as pessoas que te amam não vão deixar de te amar quando você for embora. A saudade só potencializa os abraços, intensifica os momentos e deixa claro que, quando você voltar, vai ver quem realmente sente a sua falta. Essas pessoas continuam lá e as relações nao mudam mesmo com a distância.
Sentada no meu trem de volta pra casa após vivenciar despedidas alheias como se fossem as minhas, concluo que sentir saudade às vezes é bom. Apesar dos inevitáveis apertos e pontadas, posso dizer que fico cada vez mais ansiosa para poder abraçar aqueles que sei que vão fazer de tudo pra me abraçar de volta.