Aquele abraço do Rio
Crise financeira. Crise carcerária. Violência. Desemprego.
Ouço com muita frequência para não voltar mais. "Aproveita e fica por lá! Brasil não tem nada mais a oferecer. Isso aqui tá uma bagunça!" Aqui tem menos violência. A economia é mais estável. Eu saio com celular na rua. Volto de madrugada a pé sozinha e sem medo. Transporte público funciona. Educação e saúde publica são eficazes. Aqui é a definição de qualidade de vida. Então o que falta?
Quando era pequena, sempre quis sair do Brasil e explorar o mundo. Morar fora era um sonho e voltar para o Brasil parecia impossível. Pensamentos de "primeiro mundo". Antes, quando ouvia algum estrangeiro curioso para ir ao Brasil, era uma das primeiras a cortar a ideia. "Lá é perigoso...é lindo, mas está uma bagunça! Espera um pouco!" Hoje em dia, lamento mais cada vez que volto do Rio de Janeiro e brigo com quem fala mal do meu país. "Lá é perigoso mas é só prestar atenção! Vale a pena!" Explico que o meu país tem tudo para dar certo e não chegou lá ainda. "Mas jajá a situação muda!"
Quem diria. Sinto saudades do matte com água do Jardim de Alah e da cerveja aguada. Sinto falta de sentir calor assim que saio do banho e até de não receber 1 centavo de troco ( as moedas de 1 cent pesam muito a carteira). Me descobri uma fã de praia e de acordar cedo para aproveitar os dias de sol. Sinto falta de tomar açaí, de comer tapioca e pão de queijo, de pagar 10% nos restaurantes apesar do serviço ser ruim muitas vezes. Sinto falta de ensinar o motorista de Uber a ler o Waze, da discussão Impeachment x Golpe, da minha casa, dos meus amigos e da família.
O Facetime, Instagram e o Facebook ajudam, é claro, mas não há nada como um abraço presencial de quem você estava morrendo de saudade. O reencontro é sempre uma maravilha e a despedida uma choradeira só, mas o drama faz parte. São os sentimentos das voltas que fazem o momento da ida valer a pena.
E apesar de falarmos que o pior do Brasil é o brasileiro, o melhor também é. Posso contar nos dedos as vezes em que não fui recebida com um sorriso no rosto no Brasil. Lá eles seguram a porta do metrô para você entrar. Aqui, fiquei presa entre as portas e tive que esperar 2 minutos para alguém se manifestar com o atraso do trem. Fui "salva" com xingamentos e olhadas feias. Lá o povo é feliz e sempre sorridente independente da situação. O povo abraça sem te conhecer. O povo toca em você e diz que te adora após poucos minutos de convivência. O povo está de bom humor! Fazer piada na Alemanha é difícil e traduzindo fica ainda pior!
A situação está difícil no Brasil sim, e é por isso que a escolha de morar fora é feita por muitos, inclusive por mim. Mas o aperto no coração na hora de ir embora é inegável. E na hora de responder se eu "fico lá pra sempre?"
A gente sempre volta.